Quase três meses depois de ter assumido a prefeitura, Assis Ramos, PMDB, comenta as dificuldades dos primeiros dias, fala das dívidas herdadas e destaca que nenhum dos buracos e crateras abertas pelas chuvas decorrem do que se fez ou do que se deixou de fazer de 1o de janeiro para cá. Ramos diz que não é o culpado pela situação atual, “mas sim responsável pela solução”. Ele faz questão de ser avaliado é pela Imperatriz do próximo inverno.
Ascom – Imperatriz é, de fato, o que o senhor achava que era?
Assis – Nem de longe. O instituto da transição, regulamentado mas muito mal amarrado, se torna numa ficção quando o prefeito que vai assumir, mesmo tendo sido eleito contra o grupo do que está saindo, faz o exercício do fair play, agindo com cavalheirismo, tomando como completas todas as informações recebidas. Tínhamos a certeza que estávamos recebendo uma cidade com contas resolvidas, equilibradas e liquidadas, mas não, a partir do dia seguinte, não foi bem isso.
Ascom – O senhor considera que foi enganado?
Assis – Não. Foi um erro de postura. Poderia ter instigado, pressionado... Mas optei pelo diálogo, em consideração à história das pessoas, mas vejo, hoje, que até o ex-prefeito não sabia de tudo que se passava. Conversei muito com ele, sobre tudo. De todas as conversas saí tranquilo, certo de que eu teria que administrar do dia primeiro de janeiro pra frente, mas, não. Os recursos de hoje obrigatoriamente se dividem para cobrir as necessidades do dia a dia e para pagar contas do passado, sob pena de vermos parar serviços que, se interrompidos, vão ocasionar muitas mortes, serviços como os dos anestesistas, dos ortopedistas, das clínicas de hemodiálise e de tantos outros atendimentos médicos, isso para ficarmos somente no campo da Saúde.
Ascom – O Socorrão é o maior gargalo dessa Saúde?
Assis – Não. A princípio achávamos que era, mas o Socorrão acaba sendo consequência de toda uma conjuntura. É o resultado de uma soma assombrosa de descontroles gerenciais. Querem ver? – Só de passagens aéreas e rodoviárias da Secretaria da Saúde, a conta ‘pendurada’ se aproxima de meio milhão de reais, isso das viagens dos últimos dias ou dos últimos meses, gente indo e vindo. Quem deveria viajar de ônibus acabava indo de avião, porque a Viação Açailândia chegou uma hora que suspendeu o fiado. A soma dos empenhos de restos a pagar, só da Saúde, é de R$ 21.958.327,99. Muito acima do teto de empenho que poderia ser feito. Não é só isso, porque as contas que foram aparecendo, sem sequer estarem declaradas e muito menos empenhadas no sistema, elevaram essas cifras para a casa dos R$ 40 milhões. São contas que nos pressionam, porque, se não pagas, quebram os fornecedores que ficam impedidos de prestar serviços vitais. E não basta querer pagar, porque são contas que não ficaram regulamentadas – tem que ter todo um processo de negociação com o Ministério Público e com a Justiça, além, é claro, de ter o dinheiro que acaba sendo retirado das necessidades do dia a dia.
Ascom – Quando isso tudo vai ser superado?
Assis – Sem dinheiro extra, jamais superaremos esse rombo, porque são as contas em aberto e todo um sistema sucateado, sem nada funcionando dentro dos parâmetros minimamente exigidos pelo Ministério da Saúde. Temos resultados de auditorias do segundo semestre do ano passado, atestando que toda as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) estão comprometidas, pisos, paredes e tetos apodrecidos pelas infiltrações, serviços básicos que só existem nas prestações de contas e utensílios enferrujados. Imperatriz poderia ter quase 100 equipes de Saúde da Família, mas tem apenas 42, quase todas incompletas, com problemas de cumprimento de carga horária, tanto é que, depois da auditoriaue já pode te, tivemos meses em que apenas uma ou duas estavam em campo. Isso é uma tragédia de duas consequências, uma porque as pessoas carentes ficam desprotegidas e outra porque, sem as equipes nas ruas, os recursos ficam suspensos.
Ascom – E na infraestrutura, por quê a cidade chegou a esse ponto?
Assis – Nenhum dos buracos e crateras que se abriram de 1o. de janeiro para cá é consequência do que se fez ou se deixou de fazer neste ano. As pessoas têm consciência disso. Digo e repito, a responsabilidade pela solução é minha, mas a culpa pela situação, não. Cada buraquinho, cada buracão e cada cratera decorrem dos esgotos entupidos, da idade e da qualidade do asfalto que se tem. Se somam a isso as chuvas torrenciais desta temporada. Estou, literalmente, tapando buracos, de forma emergencial, me valendo de um instrumento legal de emergência, porque nem a licitação do tapa-buracos foi providenciada pela gestão anterior. A qualidade da infraestrutura de 2017 é de responsabilidade de quem estava cuidando dela até quando esse processo de deterioração se instalou. Isso ainda pode se agravar, porque as chuvas não cessaram e o asfalto continua velho e ruim. Já em 2018, depois da estiagem e do meu trabalho, aí, sim, a qualidade da infraestrutura de Imperatriz passa a ser resultado da minha ação.
Ascom – Vai ter dinheiro para essa recuperação?
Assis – Estamos nos virando, fazendo projetos, nos apegando a tantos quantos podem e querem nos ajudar. Cortamos gastos e estamos enfrentando agora um sangradouro de quase 20 anos que já pode ter devorado os recursos que cobririam todas as necessidades da nossa gente. Estou falando de um esquema gigantesco de desvio do dinheiro do povo de Imperatriz que se instalou dentro da Secretaria da Fazenda e atravessou cinco mandatos. Não ficavam para o município nem 30% dos tributos pagos para a prefeitura. Logo de início nós detectamos esse esquema, estamos apurando e estancando esse vazamento, e vamos ver o que se pode recuperar do muito que foi surrupiado.
Ascom – E as críticas, elas o incomodam?
Assis– Não, porque são do ambiente democrático. Elas são as mesmas e dos mesmos que nos criticavam antes de assumirmos. É interessante ver que tem crítico que foi tolerante com os oito anos do meu antecessor e, quanto a mim, a crítica veio na semana seguinte à minha posse, por causa do Socorrão ou dos buracos, como se eu fosse de fato culpado por essas mazelas. Mas as pessoas estão atentas, vivem a cidade e observam o nosso esforço. O nosso trabalho é a nossa resposta.