18 de junho de 2022

Fazendeiro acusado de mandar matar policial em João Lisboa é inocentado em Júri Popular; ele já foi condenado por tentar matar um primo ex-deputado, em Alagoas

 


Vítima foi executada com vários tiros à queima-roupa em emboscada, no dia 06 de setembro de 2007, na fazenda do acusado.

Conforme decisão do Conselho de Sentença, o agropecuarista José Ilton Cardoso Ferro, acusado de ser o mandante da morte do policial civil José Heleno Santos Urbano, no ano de 2007, foi inocentado por maioria de votos.

Com a decisão, que prevalece no julgamento do Tribunal do Júri, o juiz Glender Malheiros Guimarães (1ª Vara de João Lisboa) emitiu sentença absolvendo o réu das acusações no caso da morte do policial, que envolveu mais três acusados.



O crime

O agropecuarista foi denunciado pelo Ministério Público por homicídio qualificado e associação criminosa, pelo assassinato do policial Urbano, executado à queima-roupa em emboscada, no dia 06 de setembro de 2007, por volta das 18h30. O crime ocorreu no interior da Fazenda São Francisco, na Vila Tibúrcio, situada na zona rural de João Lisboa.

Naquela data, a vítima conduzia os trabalhadores rurais depois do serviço, quando recebeu um convite para ir à fazenda São Francisco, para falar com “Renato”. Chegando lá, foi recebido com vários tiros de pistola e espingarda disparados por oito homens que trabalhavam na fazenda. Ele morreu no local.


Denúncia


Segundo a denúncia, depois do crime, José Ilton teria ordenado aos trabalhadores que acompanhavam Urbano que recolhessem o corpo da vítima e saíssem da fazenda “em dez minutos”. Em seguida, os homens que atiraram no policial fugiram do local. No dia seguinte, a polícia civil prendeu em flagrante delito os suspeitos Adelson Ângelo da Silva e Roberto Laurindo dos Santos, que estavam na fazenda no dia do crime e estariam envolvidos na ocorrência.


Interrogados pela autoridade policial, os acusados negaram participação no crime, mas declararam que seu patrão, José Ilton Cardoso Ferro, o seu filho Wagner Macedo Cardoso Ferro (o “Carlão”) e outros homens estavam escondidos e armados na fazenda, à espera da vítima chegar.

Segundo a denúncia, os homens teriam ouvido do dono da fazenda que a vítima teria encomendado a morte dele.


Na denúncia, de 27 de junho de 2008, o Ministério Público de João Lisboa pediu a condenação do agropecuarista José Ilton Cardoso Ferro (o “Renato) e do seu filho, Wagner Macedo Cardoso Ferro (o “Carlão”), dos vaqueiros Adelson Ângelo da Silva (o “Del”), Roberto Laurindo dos Santos e do caseiro José Raimundo de Sousa Leite.


Conselho de Sentença


Na sessão do Tribunal do Júri, por quatro votos, os jurados do Conselho de Sentença reconheceram que a vítima sofreu as lesões descritas no laudo do exame pericial de necropsia que causaram a sua morte; que terceiros desferiram tiros de arma de fogo na vítima, mas entenderam que o réu José Ilton Cardoso Ferro não contribuiu de qualquer forma para a prática do crime de “homicídio qualificado”.


Os jurados reconheceram a tese da defesa de “negativa de autoria” quanto aos disparos de arma de fogo contra a vítima, atribuindo o crime de homicídio qualificado a outras pessoas que estavam presentes na fazenda no dia do crime.

Em relação à acusação de “associação criminosa”, os jurados também não reconheceram a responsabilidade criminal do réu de que o ele se associou a mais de três pessoas com o fim de cometer o crime.


A vítima


Segundo informações da secretaria judicial da vara, a vítima era pai dos gêmeos (Vander e Vanderson Israel) presos durante a “Operação 17”, por decisão da 1ª Vara Criminal de São Luís, especializada em crime organizado, sob a acusação de compor organização criminosa, lavagem de dinheiro e venda de armas e munições de uso restrito, em 9 de março deste ano, em Imperatriz.


Condenado por atentado contra ex-deputado de Alagoas.

Em 27 de fevereiro de 2014, José Ilton Cardoso Ferro, conhecido em Alagoas como Zé Nilton, foi condenado a 11 anos, 11 meses e 10 dias de prisão por participação na tentativa de homicídio contra o ex-deputado estadual Cícero Ferro e o motorista José Maria Ferro, em janeiro de 2004, em Minador do Negrão.


Também foram condenados Wagner Macêdo Cardoso Ferro, a 12 anos, 9 meses e 10 dias de prisão; Jackson Cardoso Ferro a 14 anos, 10 meses e 10 dias; e Wanderley Macêdo Cardoso Ferro a 11 anos, 11 meses e 10 dias. Todos foram condenados por tentativa de homicídio qualificado, com cumprimento das penas em regime fechado.


O advogado Raimundo Palmeira sustentou a tese de que não houve confronto e que Cícero Ferro disparou primeiro e só depois disso eles atiraram. Ele disse ainda que seria impossível que as vítimas ficassem vivas com os quase 200 disparos deflagrados contra o carro. "Os tiros que estão no carro foram feitos bem depois do ocorrido, porque eles não poderiam ter ficado vivos, mesmo que abaixassem", diz Palmeira.

De acordo com a promotora Marta Bueno, as penas estipuladas para os condenados foi muito baixa, já que foram dois atentados. "Deveriam ser, no mínimo, 18 anos para cada réu. Além disso, também vamos pedir a revisão da sentença do Waldex Macêdo, que foi absolvido pelo júri".


O ex-deputado Cícero Ferro afirmou à reportagem do G1 que a sentença foi satisfatória. "Estou satisfeito porque a justiça foi feita. Ainda podemos acreditar na Justiça. A acusação recorreu porque foram duas vítimas, então, a pena deveria ser bem maior, mas vamos esperar o que a justiça vai decidir".


José Maria Ferro, que dirigia o veículo do ex-deputado no dia do atentado, disse estar aliviado. "Quem sou eu pra discordar da pena? Depois de tanto tempo, estou feliz e tirei um peso das costas", concluiu.

O caso do atentado deixou a família Ferro, que já apresentava um histórico de rixa política, dividida. A filha de Cícero Ferro, a arquiteta Thacianny Ferro, disse que familiares dos réus e das vítimas perdeu o contato entre elas após o crime. Ao afirmar que tem certeza da culpa dos acusados, ela falou que espera por justiça para o caso.


“Hoje, os familiares se respeitam, mas jamais vamos conviver com esses monstros. O que me assustou nos autos foi a alegação de que houve um confronto, mas isso não aconteceu. Eles tentaram matar o meu pai, que sobreviveu por milagre”, falou.


Todos os acusados têm algum grau de parentesco com o ex-deputado. Zé Nilton é primo de Cícero Ferro, e pai de Waldex, Wagner e Wanderley. O acusado Jackson é sobrinho do pecuarista. Familiares das vítimas e acusados se dividem no Tribunal do Júri para acompanhar o caso. Alguns estão com camisas com frases de apoio a vítimas e outros aos acusados.


Em 2017, os condenados conseguiram junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o relaxamento da ordem de prisão que havia sido expedida no dia 20 de janeiro daquele ano pela 9ª Vara Criminal de Alagoas, em cumprimento ao acórdão do julgamento da apelação pela Câmara Criminal.

Fonte: Blog do Gilberto Lima